terça-feira, 26 de julho de 2011

Enem com vista à prova de redação



A Justiça Federal no Maranhão decidiu que os candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011 têm direito à vista da prova de redação. A decisão do juiz federal José Carlos do Vale Madeira responde ao pedido do Ministério Público Federal no estado, que queria que os estudantes tivessem reconhecido o direito de recorrer da nota obtida na redação.

O juiz reconheceu que o critério de correção fixado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) é “compatível com a segurança jurídica”. A redação é corrigida por dois professores e, caso haja divergência de nota, um terceiro analisa o texto. O direito de vista da prova de redação deverá ser incluído no edital do Enem, segundo determinação da Justiça Federal. O Inep informou que irá recorrer da decisão.

Na edição do ano passado, muitos candidatos acionaram o Ministério Público para pedir a revisão das notas obtidas, mas os pedidos foram negados pelo Inep. O órgão alegou que, caso fosse aberta essa possibilidade, os resultados do Enem demorariam muito para ser publicados e isso poderia atrapalhar o cronograma das instituições de ensino superior que usam o exame em seus processos seletivos. Mais de 5 milhões de candidatos participarão do Enem deste ano, nos dias 22 e 23 de outubro.

Escola: alunos não têm suas expectativas correspondidas


A noção de que a escola serve para preparar para o mercado de trabalho é muito presente nos alunos, mas as atividades desenvolvidas nela não correspondem a essas expectativas. Essa é uma das conclusões de Flávia da Silva Ferreira Asbahr em sua tese de doutorado Por que aprender isso, professora? Sentido pessoal e atividade de estudo na psicologia histórico-cultural, apresentada no Instituto de Psicologia (IP) da USP.
Flávia é psicóloga escolar há dez anos e conta que observava que a aprendizagem por ela mesma não era um motivo que levava os estudantes à escola. Seu estudo, cujo objetivo era investigar o sentido que as crianças atribuíam à escola e quais suas motivações para irem até lá, constatou que a ideia de um ambiente que capacita para o mercado de trabalho é muito forte.
Para a pesquisadora, as atividades realizadas pelas instituições não condizem com a visão que seus alunos têm, o que faz com que, num primeiro momento, elas percam seu sentido. Deste modo, a formação desejada acaba ocorrendo por intermédio de outros fatores. De acordo com ela, o nosso modelo escolar é muito antigo e tradicional, e nem sempre a forma com que o conteúdo é trabalhado reflete as necessidades das crianças ou adolescentes. Não é que elas não se interessam, é o jeito que é passado que as deixa distante de suas realidades.
Para o estudo, a psicóloga passou um ano junto a uma sala da quarta série do ensino fundamental de uma escola pública municipal de São Paulo. Flávia explica que na quarta série as crianças já estão no fim de um ciclo escolar e possuem capacidade para fazer uma análise de seu ambiente de estudo.
Neste período, a pesquisadora observou o cotidiano das crianças, criou situações orientadas de aprendizagem, realizou atividades em grupo para que os alunos pudessem falar sobre o tema por meio de brincadeiras e, por fim, fez entrevistas individuais com a professora e algumas crianças.
Flávia também surpreendeu-se com a importância dos vínculos de amizade. Segundo ela, o papel dos amigos é muito forte e eles são um motivo para ir à escola, o que acaba entrando em contradição com o método utilizado: "as crianças chegam, tem de sentar separadas dos amigos, não podem conversar. Ou seja, não se incentiva esse vínculo, é tudo muito individual. Na escola, as características próprias da criança não são aproveitadas, elas não aprendem a trabalhar em grupo", acrescenta.
A psicóloga acredita que a maior contribuição de sua pesquisa foi mostrar o que as crianças têm a dizer sobre o ambiente que frequentam e o modelo educacional, mostrando a opinião delas e sua contribuição. "Há muitas políticas educacionais que olham por fora da escola, mas deveriam olhar por dentro. Ao menos teoricamente, a escola tem que servir às crianças, por isso é importante saber o que elas pensam". Além disso, ela vê em sua tese uma contribuição para os professores pensarem suas práticas, já que, sabendo o que os alunos pensam, fica mais fácil bolar atividades que correspondam às suas expectativas com a escola.